Aquele ensino baseado apenas na aquisição de conhecimentos por parte do aluno em função de uma exposição verbal do professor não tem mais sentido para formá-lo para a vida que nos deparamos atualmente. Na realidade, o professor como centro do processo de ensino é apenas uma utopia, mesmo que algumas escolas ainda insistam em praticá-la e que os alunos finjam aceitá-la.

As informações estão em todos os lugares. Não existe dificuldade em acessá-las em praticamente todos os recantos do planeta. O difícil é digeri-las e utilizá-las de forma a dar um sentido para a vida de cada um. E é exatamente em função dessa dificuldade que a escola deve trabalhar o aluno, levando-o a desenvolver capacidades para garantir-lhe a correta utilização dessa quantidade imensa de informações que existem a seu alcance.

Hoje, o professor é um elemento chave na organização das situações de aprendizagem, pois é da sua competência dar condições para que o aluno aprenda a aprender. Isso só acontece por meio do estímulo à articulação entre saberes e competências. Reafirma-se, assim, a aprendizagem como uma construção, cujo epicentro é o próprio aprendiz.

A prática docente de ensinar, diante da “sociedade do conhecimento”, não significa transmitir, transferir conhecimentos de uma cabeça a outra, comunicar dados e informações. Ensinar é fazer pensar, é motivar para a identificação e resolução de problemas; é ajudar a criar novos hábitos de pensamentos e de ações. E quando se ensina a pensar, o aluno desenvolve habilidades, que encadeadas, formarão competências necessárias para o enfrentamento de várias situações-problema que surgirem em sua própria vida.

Mas, para que os educadores sejam capazes de repensar as suas “práxis” é necessário que entendam o que são “habilidades e competências” e, principalmente por que são essenciais para que as pessoas se tornem autônomas diante das situações promovidas pelas experiências da vida, sejam elas de ordem acadêmica, pessoal ou profissional.

Segundo Philipe Perrenoud, habilidades são ações relacionadas não apenas ao saber conhecer, mas ao saber fazer, saber conviver e saber ser. Elas dependem de operações mais simples do pensamento, e respondem às situações menos complexas do dia-a-dia. Por exemplo, ler um texto pode ser considerado uma habilidade. As competências, ainda segundo Philipe Perrenoud, são ações que exigem um conjunto de habilidades ao mesmo tempo, e que, portanto, dependem de operações mentais mais complexas. Por exemplo, para desenvolver um projeto de trabalho interdisciplinar, o professor tem que dominar e utilizar adequadamente diversas habilidades simultaneamente. Para efeito de planejamento pedagógico a partir desta concepção, normalmente os professores definem as habilidades que deverão ser trabalhadas por seus alunos durante as etapas que compõem o ano letivo e as competências que pretendem que eles dominem ao final do processo anual.

Dentro dessa concepção de ensinar a desenvolver habilidades e competências, é necessário priorizar as experiências que o aluno vivencia para aprender, evitando considerar apenas o produto. Embora o produto seja fácil de ser identificado e avaliado, é exatamente o processo de construção que deve ser observado pelo professor, pois ele precisa ser mediado para que o aluno aprenda a construir as suas capacidades de raciocínio e de compreensão. Não adianta chegar ao produto se não houver assimilação dos meios que garantem chegar a ele outras vezes e em variadas situações. Um aluno pode realizar um exercício matemático, por exemplo, apenas por ter memorizado uma fórmula, sem ter compreendido o processo de sua construção.

Um ensino que se volta para desenvolver habilidades e competências dos alunos precisa estar embasado por subsídios geradores de práticas criativas, que priorizem o “saber fazer”, que exijam o conhecimento sobre as formas de atuar, de usar os conhecimentos, assim como usar essas mesmas formas para fazer conhecer mais coisas.

Por: Eleonora Cavalcante